A IMIGRAÇÃO, COTIDIANO DOS GRUPOS PORTUGUESES
A origem desses imigrantes será predominante do campo principalmente da região do norte de Portugal, mais apesar dessa origem camponesa a maioria desses imigrantes vão buscar se estabelecer nas cidades e nos portos. Vemos como esse é um grupo de imigrantes que chega à cidade e buscam logo de cara a comunicação, solidariedade e organização entre si. Valorizam muito os laços consanguíneos. A integração do imigrante português, apesar da facilidade do uso da mesma língua, esbarrava em novos valores e comportamentos que não eram os valores e comportamentos deles. Isso vai pesar pra que eles reforcem o convívio e lembranças da terra natal. A existência de sociedades recreativas, beneficentes e culturais portuguesas vai ser muito grande aqui em São Paulo, e muito interessante pra a gente pensar que no período em que o Estado não oferecia o mínimo de ajuda a viúvas, órfãos e pessoas idosas, essas casas de ajuda ao imigrante português vão oferecer esses serviços. Um dos exemplos dessas casas vão ser a Casa do Minho e a Casa de Portugal em São Paulo.
A Casa do Minho buscava facilitar a obtenção de emprego, de ajuda em caso de doença, buscava facilitar também o acesso de educação para os seus filhos. Promovia também á divulgação da cultura portuguesa e festas de confraternização e de apoio á família. Essas festas que a Casa do Minho promovia eram festas familiares no geral, festas do trabalho, festas religiosas ou relacionadas a cozinha regional e festas juninas. A Eulália Maria vai dizer que umas das explicações para a solidariedade dos portugueses com seus compatriotas, vai ser o fato de que nos povoados em Portugal eles tivessem o hábito de trabalhar em mutirão e em trabalho conjunto nas fainas agrícolas e de pastoreio.
A produtividade cultural dentro do grupo vai ser outro aspecto, realizavam festas, peças, revistas e jornais, um meio de manter as tradições, o convívio entre o grupo, saudar sua cultura e se manterem informados. Isso mostra o grau de organização do grupo. Consequentemente aspectos da cultura portuguesa vão ser introduzidos, incorporadas ou transformadas pelos brasileiros, um exemplo disso vai ser a penetração da dança de roda ao som da viola em São Paulo, Minas e outros Estados. Em São Paulo também, a chula vai se confundir com o fandango.
Os imigrantes portugueses estavam divididos por classes, a maioria sim vai fazer parte do proletariado, mas vão existir alguns poucos ricos. Esses imigrantes portugueses ricos vão ser rejeitados pela aristocracia cafeeira de São Paulo, e vão buscar notoriedade dentro da comunidade portuguesa, eles vão buscar essa notoriedade com as obras beneméritas. Na tese da Maria Aparecida Pascal ela vai dizer que dentro do grupo as diferenças políticas e de classe vão praticamente desaparecer, esse fato é apontado por que de 1880 á 1930 se caracteriza pela elite urbana portuguesa começar a absorver os grupos de imigrantes de classe média e baixa, assim a “cidade letrada” vai perdendo espaço.
Em que áreas o trabalhador imigrante português vai atuar? Onde ele vai ser visível? Nos setores secundários da economia eles vão se destacar no ramo de transportes, a mão de obra lusa fui fundamental para o desenvolvimento nesse setor, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, eles vão ganhar destaque desde a tração animal como na tração elétrica e a vapor. Muitos portugueses vão trabalhar carregando cargas e pessoas da cidade para os portos e também auxiliar no transporte de sacas de café, de couro, barris de farinha, açúcar, vinho e azeite, para os portos, essa conclusão é permitida graças às licenças para poder exercer essa profissão, 80% das licenças para as carroças foram concedidas para portugueses entre 1848 e 1853, quando os bondes da Light se instalam no Rio de Janeiro os portugueses vão passar a atuar predominantemente como motorneiros, condutores, cobradores e fiscais, trabalharam também nas ferrovias, companhias de navegação e no carreto dos portos, e quando estavam fora do ramo de transporte trabalhavam na costura mais sobretudo no comercio.
No comercio as condições de trabalho eram precárias, um luso relata que “Quando as portas fechavam”, dormíamos nos balcões. Em geral o comercio do centro abria às cinco horas e às seis horas no inverno. Tinha duas tardes livres no ano, Dia de Nossa Senhora da Glória e o Natal”. No inicio do século XX muitos dos vendedores ambulantes no Rio de Janeiro eram lusos, já na Bahia muitos dos portugueses vão se caracterizar por trabalhar em atividades artesanais, de tecidos, roupas, moveis e na construção civil, principalmente como pedreiros e carpinteiros, já em Santos a maioria dos estrangeiros em 1908 eram lusos (principalmente da Ilha da Madeira) e vão trabalhar principalmente no porto como ensacadores de café ao lado dos espanhóis.
A organização política desse grupo de imigrantes é outro fator que surpreende, em 1880 é fundada a Associação dos Empregados no Comercio do Rio de Janeiro formada na sua maioria por portugueses que se constituiu com 371 sócios que em 1903 subiu para 13.542, o patrimônio dessa Associação na sua época de fundação era de 3.177$100, em 1902 chegou á 796.615$100. Em 1902 é instituída a Associação Brasileira de Empregados do Distrito Federal, com 2.569 sócios com patrimônio de 19.007$720. A sua presença forte na cidade poder ser apontada pela presença no desenvolvimento das cidades e nos meios de comunicação nas cidades (jornais), em relação aos jornais podemos destacar que esse meio de comunicação será explorado pelas elites portuguesas já a cultura operária era pouco publicada por encontrar enormes barreiras em virtude do custo do trabalho gráfico e da enorme taxa de analfabetismo, que reduzia o publico leitor.
No final de 1890 podemos caracterizar esse período pela gradual substituição no mercado interno de tecidos e artigos, passando dos ingleses para os portugueses, quando esse imigrante aparece com força no comercio nacional acaba por despertar uma “raiva” nos concorrentes brasileiros, por exemplo, o lançamento do jornal “O Jacobino” em 1894 teve apoio do Marechal Floriano Peixoto, até mesmo sendo financeiro, e acusava que grande parte da imprensa do Rio de Janeiro era “patrocinada” e agiu para ajudar o comercio português. “O Jacobino” vai atacar a imagem do Português, considerando o “rapaz rude, trabalhador, mais burro e que retornava a Portugal com os ganhos ilícitos a custas de brasileiros” e alem disso atacava os portugueses com piadas insultuosas e reclamavam a nacionalização do comercio, isso mostra como os portugueses haviam se constituído de modo forte nesse setor, o jornal ainda reivindicava a exclusão do português do serviço publico, a confiscação das propriedades lusas, esses questionamentos comprovam que os portugueses alem do comercio tinham importância política, e controlavam o setor imobiliário, principalmente no Rio de Janeiro, muitos eram donos de cortiços, e nesse período o “ódio ao colonizador” aparece evidente, pois o português era condenado por cobrar preços “generosos” nos alugueis de imóveis, e por juros elevados em empréstimos, e também por terem trazido a escravidão para o Brasil, por se oporem a independência, por tentarem derrubar o governo republicano, pelo cambio baixo, a até pela prostituição no Rio de Janeiro. “Os jacobinos” queriam que o governo brasileiro preservasse o comercio para os brasileiros, confiscassem imóveis e propriedades portuguesas, proibissem os portugueses de se registrassem nas forças armadas (pois para o imigrante pobre era um meio de conseguir trabalho) e no serviço publico, que o governo controlasse a imigração, e expulsassem estrangeiros que criticassem o Brasil na imprensa e expulsassem também as famílias que autorizassem o casamento de seus filhos com portugueses. Nesse período muitos portugueses foram atacados nas ruas cariocas principalmente carregadores, caixeiros de lojas e a policia e as tropas pouco interviam, e muitas vezes a relatos de que eles até participavam dessa tentativa de linchamento “mata-galego”. Podemos concluir que muitas vezes o português aparece como o “trabalhador”, mais em momentos de crises ou dificuldades ela passa a ser o “explorador” ou “sugador”, trazendo para si todo aquele “ódio e raiva” que o brasileiro dizia sentir pelo “mal” que o português trazia.
Mesmo assim podemos apontar que a imigração vai ter um aumento brusco durante esse período e muitos serão portugueses, entre o período de 1875 e 1890, e de 1891 á 1906-07 a emigração portuguesa passando de 270 mil, passou a 400 mil. Calcula-se que no período de 1891 á 1900 á imigração total para o Brasil tenha chegado aproximadamente á 630 mil sendo que um terço dela é apontada como portuguesa.
Em 1905 os portugueses vão deter uma posição dominante na indústria de tecidos e no comércio exterior. Vai haver um forte investimento de portugueses no setor da indústria têxtil nas regiões de São Paulo, e principalmente no Rio de Janeiro, os portugueses vão se caracterizar também por serem grandes proprietários de imóveis, principalmente de cortiços, Antônio Torres, um jornalista “anti-luso” em 1923 acusava os portugueses de possuírem 85% das empresas comerciais do Rio de Janeiro e de darem preferência aos artigos portugueses, tanto para suas lojas como para seu próprio consumo acusando do os de desvalorizar os produtos brasileiros, e também de empregarem principalmente pessoas conterrâneas, gerando um grande desemprego entre os brasileiros, e de investirem os lucros em Portugal fazendo com que o Brasil só fosse um local a ser explorada e de abandonarem o país assim que tinham oportunidade de regressar a Portugal, já que estavam enriquecidos. Essas acusações mostram como os portugueses que deixam Portugal para vir trabalhar já obtinham uma “expectativa” de onde iriam, pois o aumento da comunicação facilitava esse contato, em outras palavras o imigrante português muitas vezes já sabia para onde ir, e também essas denuncias mostram que os portugueses eram os imigrantes que possuíam o maior numero de propriedades, os ramos que se encontram mais “á portuguêsados” eram os das joias, farmácias, drogarias, confeitarias, bares e gráficas, e geralmente pequenos comércios onde era feito o maior investimento muitas vezes representados na figura de armazéns, por exemplo, na Bahia a figura do português esta ligada a do comercio e da construção civil, vale resaltar que a partir do século XX á imigração desse grupo se concentra no eixo Rio - São Paulo, por vários motivos, entre eles “bons salários se comparados com os de Portugal, e também o “medo”, por que em outras localidades do Brasil o português era visto com maior hostilidade, por exemplo, o conflito em Belém no final do século XIX provocado pela posição privilegiada do português em relação ao brasileiro, esses conflitos e revoltas acabou por desencorajar o português para partir á essas regiões, o português vai ter posição ambígua ora apontado como um irmão do povo brasileiro, mas também desprezando mulatos e negros (povo brasileiro) como aparece ilícito nos processos criminais, e também por que graças ao café que acaba por trazer a riqueza principalmente para São Paulo e Rio de Janeiro, onde se desenvolvia as suas cidades, e é pra lá que a maioria desses imigrantes vai partir. Para o Rio de Janeiro, como era a capital da republica, sede do governo, e maior centro bancário e comercial do país e a cidade pioneira na industrialização, isso fazia com que atraí-se os imigrantes portugueses, e para São Paulo que recebeu as grandes massas que passavam a ser dirigidos para a lavoura do café que estava em grande expansão, mais para a lavoura irão outros grupos de imigrantes e uma minoria de portugueses, geralmente italianos. Na indústria têxtil de São Paulo, a mão de obra vai ser em sua maioria feminina.
Pela cidade de São Paulo era comum também se ver a imigrante portuguesa vendendo flores, verduras, ovos, batatas, cebolas, esses produtos eram provenientes de chácaras próximas a cidade. Então além do trabalho doméstico as mulheres portuguesas complementavam a renda com essas atividades. Outra atividade que essas mulheres vão realizar vai ser a cerca da culinária portuguesa, elas vão preparar pra que seus filhos menores vendam em parques, portas de igrejas, teatros e no Jardim da Luz, doces e salgados, como os famosos pastéis de Santa Clara e de Belém. Como empregadas domésticas vão ter muita facilidade de serem contratadas, um dos motivos apontados e que algumas famílias preferiam empregadas brancas. E para terem uma renda a mais algumas mulheres casadas além de trabalharem de domésticas lavavam e engomavam roupas para fora.
Vai haver também um grande número dessas mulheres que vão trabalhar e morar nessas residências em que trabalhavam. A respeito do tempo de trabalho feminino em domicilio o tempo vai ser marcado pela fragmentação das atividades e tarefas, vão trabalhar um número de horas muito maior do que um operário fabril e receberam piores remunerações, mas de certa forma permitia que essas mulheres conciliarem o trabalho com a casa, com os filhos e família, um meio entre o público e o privado que apesar da precariedade, possibilitava a subsistência.
No livro do Aluísio Azevedo, “O Cortiço” o dono do cortiço é um português, e é muito interessante como o Aluísio trata dos personagens portugueses na obra. O português aparece como o aproveitador, o corrupto, no começo do livro ele mostra como o personagem dono do cortiço consegue construir o cortiço, ele consegue através do furto, a noite ele se apropriava de matérias de construção. Através dessas coisas que fica mais evidente o conflito Inter étnico, os brasileiros não viam com bons olhos os portugueses., nesse período os portugueses são apontados como donos de 87 cortiços, dos 156 do distrito de São Jose no centro.
Mas bem voltando aqui para o trabalho à participação dos portugueses nos setores secundários e terciários da economia, vai estar ligada principalmente no setor dos transportes no Rio, tanto o transporte feito pelas carroças, como de tração elétrica e a vapor. E em São Paulo o imigrante português vai entrar no trabalho industrial, e uma coisa interessante é que esse trabalhador industrial vai ter um papel muito forte dentro dos movimentos sindicais, ocupando inclusive lideranças em alguns casos.
Bom esse imigrante português vai estar ligado também ao serviço no comércio, como caixeiro e caixeiro viajante que viajavam vendendo mercadorias pelo interior do Estado.